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Mostrando postagens de 2009

Por não estarem distraídos

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas

A Companheira

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"(...) ao novo dia em harmonia, a sempre forte e meu suporte quando vacilo, porte tranqüilo, voz de carinho no meu caminho, leal, paciente constantemente (...)" Drummond um ano.

Cidadão do nosso tempo

"Ser um “cidadão do nosso tempo” é essencialmente afirmar com todas as forças não suportar a mentira e a injustiça, e em seguida, dizer que a verdade é relativa e que não existe certo e errado." (  Edson Camargo  )

Presença Ansiada

Assim que entrei. Fui dominado por aquela presença. Não a verde do grande quadro negro. Ou a bege dos colegas de classe. Mas a pequena presença azul-celeste. Clara e branca. Esvoaçante. Ansiada. Ela sempre me inquietava. Mas naquele dia. Aquela presença. Tomava toda minha atenção. E tensão. Necessidade de preenchimento. Observava-a de longe. Timidamente. Desejante. Atento. Aquele azul e branco movia-se. Pra lá. E pra cá. Meus olhos compenetrados. Observavam. Ela movia-se. Abria-se em branco. As mãos em movimento. E fechava-se em azul. Lentamente. Passivamente. Ia. E vinha. Eu já não disfarçava a angústia. Desejava-a. Meu corpo se mexia. Erguia-se à procura. À espera. Aos pequenos movimentos. Intensificava-se. Mais. Meus olhos chamavam-na. Ela saia de vista. E voltava. E ficava parada. E logo se movia. Cada vez mais perto. Cada vez mais perto, cada vez mais. Perto. Perto. Perto perto perto. Perto! Dentro de mim! Dentro da sala. De aula. Não ouvia o professor. Mas aprendia. A esperar. A

Pequenas Coisinhas

A formiga e a cigarra estavam sentadas, conversando e observando as primaverais cores e flores que tinham chegado após aquele duro inverno. As maiores brigas tinham passado, mas as pequenas coisinhas ainda floresciam, apertavam. A formiga virou e reclamou: - Você só fala de você! Por que não falamos de mim? Daí continuaram a falar da cigarra e de sua mania de falar de si mesma. Ignoravam as flores, as cores, o duro inverno que tinham vencido juntas.

Efeitos Colaterais

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Dois a Rodar

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Videoclipe da música Dois a Rodar, do Ludov.

=-]

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É o rio

Daí existem aqueles momentos em que ficamos confusos, perdidos, mergulhados em um rio de alegria e medo. Nessas horas, quem navega sobre esse rio, apesar de nem saber para onde viaja, pode gritar lá de cima o quanto é normal, passageiro e bom estarmos assim. Por mais verdadeiro que seja, isso não salva o mergulhador, principalmente se esse não sabe nadar. O pior é que esse mergulhador que não sabe nadar provavelmente caiu lá do barco lá em cima. O problema não está em quem está sob ou sobre o rio. O problema é o rio.

Prosseguimento

Raros são os que diante de textos complexos como este prosseguem na leitura. Há de se ter um quê de coragem, fé e ousadia ao ultrapassar a superficialidade do primeiro parágrafo à espera de motivos para investir o precioso e escasso tempo. De tal modo são também raros aqueles que buscam ultrapassar minha superficial capa de timidez, simpatia, nerdice, estranheza e complexidade. Não que me entendam completamente ou que concordem com tudo o que eu penso, falo ou faço. É que talvez surjam exatamente dessas incompreensões e discordâncias as melhores conversas, os melhores conselhos, os melhores momentos, os melhores silêncios. É que talvez seja nessa troca que se construa e se fortaleça a relação familiar, as amizades, o namoro e tudo o mais que me (nos) ergue e sustenta. É que talvez todas essas pessoas metonimicamente citadas tenham um quê de coragem, fé e ousadia, não apenas por ultrapassarem minha superficialidade, mas também por adentrarem e atuarem nesse meu universo inescrevível p

Si-Mesmo

Depois do crime, a fuga A triste história tinha acabado de se revelar completamente quando saiu correndo e correndo e correndo, correndo às cegas, correndo em fuga. Era como se não pudesse enxergar. Não por cegueira, mas por raiva de olhar pra trás, medo de olhar pra frente e vergonha de olhar pra dentro de si-mesmo. Logo ele, que sempre se orgulhou de sua forma de ver os fatos. Logo ele, tão improvável. Maldita alucinação! Correndo, correndo desesperadamente! Tinha acabado de matar a mulher que amava, que tanto amava! Logo ele? Ele! Correndo, confuso, correndo e correndo e correndo, logo ele! Loucura. Ninguém imaginaria que seria capaz de tal crime condenável. Nem ele mesmo. Tudo confuso. Infelizmente, porém, o fato é que estava consumado: ela morta, quem diria, e ele logo interceptado pelo grupo de policiais que o seguiam. Foi o fim? Depois da fuga, o amor - Alô? Amor? Oi! Tudo bem, e com você? Que bom! Pois é, parece que hoje vai ser um dia bem difícil. É, julgame

Procrastinação

"O tempo foi passando e eu, que mantinha minha agenda sempre em dia, tirando as tarefas do caminho, fui adquirindo uma sensação de superpoder que é ao mesmo tempo a nossa criptonita: vai dar tempo, depois eu faço. (...) Sim, eu vou fazer, basta querer. Não preciso de aviso, tudo sob controle. É a procrastinação que chegou! (...) tem uma hora que a bruma procrastinadora é inalada, inibindo qualquer iniciativa... (...) Como sei que isso de procrastinar é uma atitude totalmente mudável, fico mais tranqüila. Afinal, só depende de mim. E disso eu entendo! E se não entendo, um dia eu vou. Se eu não for, alguém me leva. Se ninguém me levar, eu fico aqui e faço o que tenho que fazer! Se realmente precisar..." TAKAI, Fernanda . In: Nunca Subestime uma mulherzinha Vinícius Cássio Barqueiro Sábado, 09 de maio de 2009

Mise en Abyme

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No último sábado, dia 02 de maio, o Karlisson convidou os leitores de seu excelente blog  Nerdson não vai à escola a completarem as falas da tirinha abaixo. O autor da melhor idéia ganharia uma camiseta, o autor da segunda melhor idéia ganharia três bottons e as dez melhores histórias seriam publicadas em seu blog.   Em meio a um fim de semana loucamente atarefado e (por isso) procrastinador procrastinador , decidi, claro, participar! Nisso, envolvido na minha peculiar empolgação, decidi mudar os desenhos da tirinha! Um tiro no pé, eu sei, mas um tiro tão tentador! Eis a idéia que enviei: Conforme combinado, hoje foi divulgado o resultado e, viva, tive a honra de ficar entre os dez melhores e receber "menção honrosa por subverter a proposta inicial"! rsrsrs. =P Fiquei feliz. Essa promoção ainda me lembrou duas coisas: 1) Nessa história de os leitores terminarem a tirinha, lembrei de um debate que tive recentemente com a Ju e depois com o

Filosofia para a Sala-de-Aula

G.K. Chesterton (Daily News, 22 de junho de 1907) Fonte: HOTTOPOS Tradução de Gabriele Greggersen O que o homem moderno precisa compreender é simplesmente que toda a argumentação começa com uma afirmação ponto-de-partida; isto é, com algo de que não se duvida. Pode-se, é claro, duvidar da afirmação base, mas, nesse caso, já estaria dando início a outra argumentação diferente, propondo que se parta de outra suposição. Todo argumento inicia por um dogma infalível, e esse dogma absoluto, por sua vez, só pode ser discutido, se recorrermos a outro dogma infalível: nunca se pode provar o primeiro ponto-de-partida (senão não seria ponto-de-partida). Este é o be-a-bá do raciocínio lógico. E tem esta vantagem especial de que pode ser ensinado na escola, como qualquer outro be-a-bá. Não dar início a qualquer discussão sem antes declarar abertamente os postulados de cada um, é uma regra a ser ensinada tanto na filosofia, quanto na matemática de Euclides, ou em qualquer aula comum, u

Insatisfações?

 by Juliana Peres: "Sim! é maravilhoso!  mas acho também que a gente deve se dar o direito de não se contentar tanto sempre. Eu sempre fui muito rígida com isso comigo, mas de uns tempos pra cá, acho que não dá pra cair tanto no outro extremo. Que não dá pra se obrigar a cair no outro extremo. Que as insatisfações existem e, paciência, a gente não precisa ficar sempre brigando com elas . O  que não pode, o que não dá, é achar que elas são, então, o centro da vida! Que tuuuudo é ruim! E que tudo gira em torno disso, e então, pronto, cabô, que droga de vida! rsrsrs. Isso eu acho péssimo! Aí não dá! A vida tem um montão de coisas boas e bonitas e pessoas adoráveis ao nosso redor também!" Que neste ano não sejamos alienados que tentam ignorar as coisas ruins, mas que também não sejamos alienados que não vêem o tantão de coisas boas ao nosso redor! ;-)