Tempestade em Copo D'água

E de repente lá estava a cigarra no copo.

A formiga, que religiosamente passava por ali todo dia, viu sua amiga presa num copo virado de ponta cabeça na terra e correu querendo ajudar.

Iria a formiga salvar sua amiga?

Primeiro, ela pegou um graveto e começou a dar pancadas no copo enquanto gritava seu sermão sobre o problema de virar copos e mais copos pra afogar as mágoas ou pra brindar. Mas a cigarra, que naquela situação nada ouvia do sermão, começou a implorar que a formiga parasse com aquelas pancadas barulhentas que doíam no ouvido.

Depois a formiga começou a cavar muito a terra a fim de fazer um buraco que ligasse o copo ao lado de fora. Mas a cigarra começou um choro muito agudo pedindo que a formiga deixasse aquele trabalho vão e apenas ficasse ali, ao lado do copo, fazendo companhia. A cigarra estava com muito medo.

O tempo foi passando e a formiga começou a desconfiar do que tinha feito a cigarra parar ali. Mas o vidro estava cada vez mais embaçado e o ambiente cada vez mais barulhento, por isso não conseguia perguntar. Não conseguiam se comunicar. O barulho repentino vinha de trovões.

Começou uma tempestade.

A formiga foi ficando desesperada. Enquanto as gotas de água caíam em seus olhos, a cigarra poeticamente começou a fazer carinho no copo. Esse carinho foi desembaçando o vidro, de maneira que agora os olhos de ambas podiam se encontrar. Num olhar certeiro, a cigarra mostrou que a formiga conseguiria entrar ali e escapar da tempestade.

Ela salvou sua amiga.

Vencida a tempestade, a formiga perguntou por que tanto medo, já que pela primeira vez a cigarra havia se precavido e se protegido de um perigo posterior. A cigarra novamente lançou um olhar certeiro que respondeu: eu temia por você.

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