Maninha

Karina e Vinícius. Foto de 2006.

Talvez ainda uma criança da última vez que citei você aqui. Nem faz tantos anos. É que o tempo voa, mesmo. Parece até que foi ontem que eu vi você aprendendo a dar os primeiros passos. E hoje já é sua filha, minha sobrinha, nosso clone, quem vai aprendendo a caminhar com as próprias pernas de maneira emocionante. Ligeira e encantadora como a mãe.

Talvez não saiba do meu orgulho ao vê-la alcançando a adultice em idade e maturidade. Não apenas por vê-la escutar Beatles e substituir-me no posto de ajudante-oficial na hiperatividade do pai, mas principalmente por vê-la aprender a lidar com os percalços da vida.

Talvez não tenha noção do tamanho do medo que a vida nos deu ano passado, susto maior do que vê-la pular do berço ou cair com o triciclo de cima do escorregador. E talvez não saiba o alívio que foi vê-la sair bem daquele hospital após tanta aflição, alegria maior do que vê-la escrevendo belas redações, ganhando de mim no xadrez e arranhando no teclado junto à Ju. A aluna mais querida e impaciente que já vi.

Talvez não perceba, mas continua se fazendo presente apesar da distância. Como quando eu chegava em casa e sentia o cheiro do seu mingau, usava seu shampoo para cachos e lamentava meus biscoitos subtraídos do armário.

Talvez não se dê conta, mas apesar dessa presença no coração, sinto falta da sua companhia cotidiana. De você invadindo meu quarto a despeito da placa "proibido Karina" para mostrar seu caderno, acompanhar-me no videogame ou suplicar a morte de uma barata.

Talvez não faça sentido, mas sinto falta até das nossas discussões para você falar direito e mais devagar, ou para eu dirigir direito e mais rápido. Do seu mau-humor matinal e da maneira sagaz com que você adivinhava meus defeitos e gostos, todos.

Talvez não demonstre tanto como deveria, mas gosto de você. Gosto quando você me atende monossilábica no telefone, quando ouço você cantar desafinada em inglês para a Manu dormir, quando você tenta me ensinar a mexer em eletrônicos e comprar coisas de bebê. Gosto de vê-la, de abraçá-la, de encher seu saco, de saber que minha irmãzinha é hoje uma universitária esforçada, uma filha companheira, uma namorida carinhosa, uma mãe cuidadosa, uma tia babona.

Talvez o Tito venha até a gostar da sua pipoca com ajinomoto e das outras tosqueiras que você curte, tal como a Manu já curte buzinar minha escaleta azul. Família cada vez mais bonita e mais barulhenta essa nossa, heim?

Talvez, enfim, seja esse tipo de vínculo simples e profundo que espero seguir vivendo nesses novos passos que estamos aprendendo juntos, maninha. Aprendendo juntos a ser o que nossos pais já são.

Feliz aniversário!
Com muito carinho, Dedei.

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