Nunca gostei de exageros, embora eu seja exagerado. Talvez seja culpa da minha paixão por paradoxos. Comecei a pensar nisso na viagem. Falavam cada exagero verdadeiro. Que lugares fascinantes! Não apenas pela imponência, nem apenas pelo capricho. Fascinantes pelo misto de grandeza e detalhamento, ambos exageradamente na medida certa. Rios de esmeralda, palácios nobres, jardins de sonhos, obras de arte, construções monumentais! Frutos de muito talento, muita coragem, muita guerra, muita loucura, muita fé, muito tempo! É como se a História toda estivesse ali, palpável. Que privilégio! Listaria tudo isso, aliás até listei num rascunho que acabei de abandonar. É que tiraria o foco deste texto. Dizia eu que comecei a pensar nisso na viagem, e não falo da minha viagem. Falo da viagem dela. É, o intercâmbio. Nunca gostei de me expor, embora aqui esteja. Falavam cada exagero falso. Essa viagem nos afasta, mas nos aproxima tanto! Acho fascinante nossa caminhada, ...
De Julio Cortázar:
ResponderExcluirInstruções para chorar
Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de chorar, entendendo por isto um choro que não penetre no escândalo, que não insulte o sorriso com sua semelhança desajeitada e paralela. O choro médio ou comum consiste numa contração geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente.
Para chorar, dirija a imaginação a você mesmo, e se isto lhe for impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, pense num pato coberto de formigas e nesses golfos do estreito de Magalhães nos quais não entra ninguém, nunca.
Quando o choro chegar, você cobrirá o rosto com delicadeza, usando ambas as mãos com a palma para dentro. As crianças chorarão esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do choro, três minutos.
pretty nice blog, following :)
ResponderExcluir