O Livro de Eli

O filme é sanguinário e incômodo. Quase um novo ensaio sobre a cegueira. Não nega o poder da Bíblia, tanto que atribui a ela a indestrutibilidade do Denzel Washington, o mérito na construção de impérios e a culpa pela destruição do mundo. De um lado, a besta-humana que mata meio mundo para manter-se com o livro. Do outro, a besta-humana que mata a outra metade para obtê-lo. No meio (do filme), a constatação óbvia de que tanto a defesa da fé quanto o seu uso indevido muitas vezes impedem a completa prática desta crença. A constatação óbvia de que o poder não está no papel ou nas palavras: está na prática. E, por fim, a perpetuação dos ensinamentos sagrados e da paixão humana pelo poder (que, aliás, é afirmada explicitamente pela própria Bíblia). A destruição do mundo é culpa do livro ou da paixão humana pelo poder? Sejam quais forem nossas respostas, elas pressupõem a certeza de sangue, sofrimento e morte. Pressupõem culpados. E há salvação? A vida e o sacrifício do Denzel Washington no filme serviram para alguma coisa? Sejam quais forem nossas respostas, elas refletem questões muito parecidas às que nos acometem neste feriado de Páscoa. Questões sanguinárias e incômodas. Pontos de vista de um mundo cego de tanta luz.

Comentários

  1. oi Vini, sempre leio seus textos, sao demais. Hoje vou assistir o LIVRO DE ELI, espero gostar... Ronnie

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