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Mostrando postagens de 2010

Ano que foi, ano que vem

Ainda não me acostumei a escrever texto de passagem de ano. Poderia listar grandes acontecimentos ocorridos, como meu término de relacionamento de mais de dois anos com a Fundap, meu antigo emprego, lugar onde cresci demais em todos os sentidos e que me abriu diversas portas. Lugar que deixou saudade. Ainda falando em saudade, poderia escrever sobre a  volta de ma petite Juliana , de como seu intercâmbio foi uma experiência enriquecedora para nós dois e de como, mesmo longe, mantivemo-nos próximos, juntinhos, caminhando a passos vagarosos e firmes, lado a lado, nesse caminho abençoado e maravilhoso. De como, agora já com mais de dois anos de namoro , o respeito e a ternura continuam nos guiando, e de como ainda me surpreendo com cada qualidade julianística que vai se revelando no simples, no dia-a-dia, no cotidiano. Do quanto ela, Juliana, é uma espécie de luz que me faz enxergar, como num susto, a felicidade. Falando em sustos, poderia escrever sobre o baita susto que m

Para ser conciso

Para ser conciso, é preciso escrever muito.

J'Attendrai Le Suivant

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Curta-metragem J'attendrai Le Suivant, de Philippe Orreindy.

Por Amor

Talvez ambas, cigarra e formiga, nunca se toquem do quanto se amam. Se soubessem, talvez a cigarra tentasse acordar todo dia na mesma madrugada, em plena escuridão do amanhecer, para ir lá, bocejante e desengonçada, tentar acompanhar a incessante marcha operária da outra em busca de folhas sem fim. Cumpriria o papel ridículo de saltitar em meio aos passos firmes e ligeiros de miúdas patinhas incansáveis, terminando a jornada entalada, em plena entrada do formigueiro, empacando o caminho das demais sem trazer uma mísera folhinha. Tudo por amor. Sem contar que talvez a formiga abandonasse o trabalho da vida toda para ficar ensaiando músicas ao longo do dia, desafinando agudos incorrigíveis nas suas rimas pobres de amor e dor. Cumpriria o papel ridículo de questionar ao sol e à lua como, de repente, a outra deixou de procurá-la nos invernos esfomeantes, e terminaria expulsa do formigueiro e desamparada no frio da solidão. Tudo por amor. Cada uma, pouco a pouco, deixaria de s

Caminhada

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Acerta quem diz que o melhor do caminho é a própria caminhada. Em um caminho campestre, por exemplo, é realmente indispensável saber apreciar o perfume das flores, o canto dos pássaros, a imponência delicada das árvores frondosas. Indispensável viver o presente, colher o dia, não apenas saudosar verões ou projetar invernos. Sobretudo quando tal caminhada é metáfora do amor. Erra, no entanto, quem esquece que o caminho só existe quando leva de um lugar a outro. Que o caminho leva tempo. Afinal, não fossem um ponto de partida e um ponto de chegada, nem haveria caminho; bem como, não fosse o tempo, nem haveria pássaros, flores, árvores. É impossível colher um dia não plantado. Há quem defenda a total falta de perspectiva, um simples ir-levando, e a esses resta um mero vagar, não a caminhada em sentido pleno. Resta um vagar como a folha que o outono seca e leva, não a alegria primaveril das flores ao sol diário, os laços íntimos dos pássaros nos ninhos e nas nuvens,

Os gêneros breves

"Os gêneros breves, quando bem praticados, exigem mais que os exaustivos, tanto de quem os comete como de quem os lê. Um aforismo, isto é, duas ou três linhas de pensamento concentrado, dá ao bom leitor mais trabalho que muitas e muitas páginas de prosa corrida. Justamente porque o interesse de quem o escreve é de que o leitor faça por si todo o caminho feito por ele até a fórmula. Um aforismo começa a ser lido depois que se o lê. Já na prosa mais pormenorizada, ao contrário, tudo está lá. Acabada a leitura, resta a impressão. Engana-se por isso quem a julga mais pesada. Ao fim de um dia, alguém cansado não há de se aproximar, prioritariamente, de um Lichtenberg, mas de um romancista ou um ensaísta qualquer, sob pena de não tirar proveito algum do que vai lendo. Outro engano: o de imaginá-la mais demorada. Inversamente, cem páginas de bons fragmentos demandam, além de mais empenho, muito mais tempo do que, digamos, cem páginas de um contorcido Proust. Porque cada frase de um afo

Sobre Política e Religião (resposta de Mayra Lourenço)

por Mayra Lourenço, em resposta ao texto " Sobre Política e Religião " "Olá! Não tenho a mesma capacidade retórica do autor deste belíssimo texto, tampouco tenho o domínio das letras como seus colegas e meu estimado futuro esposo, mas creio que poderei contribuir para o debate com minhas perdidas e alongadas reflexões históricas. Como todo historiador, comecemos por separar as frutas colocando cada qual em sua cesta, para que possamos compreender as suas especificidades; atentarmos a cada cor e sabor para que, posteriormente, possamos ajuntar tudo e fazer uma bela salada de frutas, sabendo qual a importância de cada amora ou maçã dentro dessa imensa tigela; notando qual é mais doce ou amarga e qual a composição exata de cada elemento para elaborar a receita com o gosto perfeito. Então vamos aos morangos: creio que não podemos colocar no mesmo pote idéias tão distintas, comecemos a descascar as frutas. Socialismo, anarquismo e capitalismo são diferentes modelos

Sobre Política e Religião

Em face dos atuais discursos vazios de nossos presidenciáveis, os quais ignoram qualquer senso crítico ou coerência e visam apenas agradar a grande maioria da população, penso que seria contraditório da minha parte criticar tal postura por meio de textos que visassem apenas agradar a grande maioria de vocês, amigos leitores. É por isso que apresento a seguir algumas idéias soltas; talvez bem polêmicas, mas certamente não-vazias. Haverá quem possa dizer que são apenas brincadeiras forçadas de lógica e retórica, mas haverá também quem saiba descascá-las e espremê-las de maneira que rendam um suco forte, saudável e refrescante. 1. Dizer que questões religiosas não podem entrar em pauta porque o Estado é laico é tão infundado quanto dizer que questões socialistas não podem entrar em pauta porque o Estado é capitalista. Uma coisa é não concordar com a religião ou com o socialismo; outra coisa é querer impedir que o povo e os candidatos discutam tais questões. Uma coisa é não concord

O Grande Herói do Povo

(conto infantil, a ser ilustrado) Era uma vez o Grande Herói do Povo. Ele empenhava toda sua vida na luta contra a Injustiça. Caçava bandidos perigosos. Enfrentava monstros poderosos. Protegia os fracos e indefesos. Todos amavam o Grande Herói do Povo. Um dia o Grande Herói do Povo matou a Injustiça! Prendeu todos os bandidos perigosos! Dominou todos os monstros poderosos! Deu segurança a todos os fracos e indefesos! Foi uma vitória fantástica! Todos comemoraram aquela vitória! Mas a festa durou pouco tempo. De repente, o Povo parou de amar nosso Grande Herói. Todos os fracos e indefesos começaram a reclamar: Você não é mais o mesmo! Você não luta mais contra a Injustiça! Você não caça mais bandidos perigosos! Você não enfrenta mais monstros poderosos! Queremos outro Grande Herói. Enquanto o povo reclamava, a Injustiça ressuscitou. Ela estava ainda maior e mais forte. Virou a Grande Injustiça do Povo. Foi assim que nosso Grande Herói perdeu a luta contra a

Mãe de todos os vícios

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Contraditório Prazer

Como bom taboanense-paulistano, confesso que sinto um contraditório prazer em estar sufocado de trabalho. Minha louca ocupação é como o ar dessa metrópole, que ao mesmo tempo dá a vida e acaba com a saúde. Minha falta de fôlego é como um combustível: me faz correr ainda mais em busca de um suspiro aliviado, de uma parada para encher o tanque e retomar a estrada poluída. Toda busca por dinheiro custa caro. E em meio a tudo isso, pois, eis minha falta de tempo para o blog, servindo de inspiração, profunda, para eu nele escrever após tanto tempo sem tempo. Mesmo que isso me custe um bocado de tosse e de olhos ardentes.

Arte Pós-Moderna

Após muita insistência, a cigarra conseguiu convencer a formiga a acompanhá-la na aula de arte cigarral. Chegaram ao local, repleto de cigarras-artistas, e logo ouviram a professora-cigarra bradar: - Vamos fazer arte pós-moderna, cigarrinhas! Inovem! Rompam paradigmas! Fujam de qualquer lugar comum! Como num passe de mágica, todas as cigarras começaram a pintar cubismos, surrealismos, abstratismos e toda forma de arte fragmentária, descontínua e perturbadora. Formavam ali uma grande orquestra regida pela clave da dissonância. Enquanto isso, a formiga pintava detalhadamente a paisagem cotidiana, colorindo minuciosamente toda sorte de grãos terreais, folhas crocantes, pedregulhos montanhosos e gotas d'água arqüirisadas por fechos da luz pós-chuva. Naquela pequenina tela, um pequeno fio de água eterna cortava o chão, paralelando o caminho pelo qual as formigas costumavam marchar em trabalho, religiosamente sorridentes. Era um belíssimo quadro, quase clássico. Ao

Dois Patinhos na Lagoa

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Percebo que, de fato, tenho muito a comemorar e agradecer hoje. Não meu "crescimento" ou "nascimento" ou "independência", pois ano-a-ano sinto-me diminuir diante da constante expansão do mundo ao meu redor, além de descobrir na alegria carinhosa dos abraços e mensagens o quanto dependo mais dos outros do que de mim mesmo. Comemoro na verdade o crescimento do mundo, o nascimento das pessoas próximas e minha óbvia dependência disso tudo. A subjetividade de hoje me faz olhar, sim, para dentro de mim, mas para enxergar o não-eu , tanto por meio dos olhos alheios que me vêem de maneira muito melhor do que realmente sei que sou, quanto por meio dos meus próprios olhos, ano-a-ano renovados, limpos e abrilhantados através das tantas lágrimas e sorrisos que dia-a-dia deixam marcas em minha face, irreversíveis como o tempo. Tempo que insistirá em passar na constante esperança de dias futuros, a qual para mim consiste em fazê-los, todos, dias e mais dias

Dedilhar os Teus Cabelos

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O Poder das Palavras

A formiga carregava um pesado fardo de folhas quando deparou-se com a cigarra, cantando toda sorridente. A cigarra, vendo a expressão cansada e silenciosa da amiga, decidiu ajudar. Filosofou poeticamente um monte de palavras de ânimo e arrematou com ar de sabedoria: - Oh, formiga, são as palavras que sustentam o céu! A formiga bufou e perguntou se as palavras poderiam, então, ajudar a carregar pelo menos uma mísera folhinha.

Chega de Saudade

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CHEGA! Esperei tanto por este dia... esperava há dez meses atrás que hoje seria o "recomeço"... Enfim, confesso que surpreendi-me. O dia tão ansiado chegou, mas não haverá recomeço. Porque recomeçar é retomar algo parado. E nada ficou parado ao longo desses dez meses de "distância". Graças a Deus, avançamos. Aprofundamos ainda mais nossa cumplicidade, nossa leveza, nossa confiança, nosso respeito, nosso prazer na caminhada conjunta: passo-a-passo, dia-a-dia, mais-e-mais. E se Deus assim quiser, o abraço apertado no saguão do aeroporto será apenas mais uma decolagem deste vôo tão bonito e corajoso, ainda que cheio de escalas, ainda que turbulento nos maus tempos, ainda que escuro nas horas sem sol. Ainda que imprevisível. Afinal, faz parte dessa beleza corajosa a imprevisibilidade, o aperto, as manobras arriscadas, a reconquista cotidiana... o Amor, no sentido mais concreto e prático do termo! Ainda surpreende-me tanta cabeça nas nuvens e pés no chão, tanta for

Dar-Te-Ei

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Marcelo Jeneci cantando Dar-te-ei no Estúdio Multishow.  Feliz dia dos namorados!

Alice in Wonderland

Para mim, falar de Alice é falar de expectativas. Primeiro porque era grande minha expectativa pela estréia do filme - e ela foi quebrada de maneira surpreendente. Segundo porque julgo o tema "expectativa" o próprio fio condutor do enredo - muito bem construído, na minha opinião. Terceiro porque vivo um momento de grande expectativa - e nada mais natural do que usar a fantasia para lidar com minhas próprias questões subjetivas. Por um lado, esperava que o filme fosse uma grande aventura empolgante. Decepcionei-me. O filme chega a ser monótono em alguns momentos e a tentativa de ao mesmo tempo agradar os fãs do Lewis Caroll, da Disney e do Tim Burton não parece ter sido tão bem sucedida. Ninguém é capaz de agradar a todos, nem mesmo um filme com Jhonny Depp. Por outro lado, não esperava que o filme tivesse um enredo dos mais geniais. Surpreendi-me. O "país das maravilhas" de Alice é um "sonho" onde ela lida com todas as questões subjetivas que envolvi

Duas Janelas

"É só quando amo que consigo olhar, ao mesmo tempo, por duas janelas que não se confundem, a minha e a de meu amado. A estranha experiência ótica faz com que os amantes reconstruam o mundo, enxergando coisas que ficam escondidas para quem só sabe olhar por uma janela." CALLIGARIS, Contardo. In: A coragem d o amor que dura .

Better Together

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Jack Johnson cantando Better Together.

Dançarinos Amadores

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Primeira aula de dança dos dois. Uma música começou a tocar. Tinham que fazer aqueles movimentos todos. Desajeitados e concentrados, faziam o que podiam e ocasionalmente se trombavam. Tanto que começaram a rir. E o sorriso dela era lindo. E os olhos dele também. Vieram mais músicas. Gostavam cada vez mais daqueles movimentos e trombadas. As risadas eram agora conversas sobre as tarefas e músicas em comum, cada vez mais difíceis e animadas. E de repente estavam abraçados, dançando uma música muito bonita e lenta, de passos vagarosos e curtos. Música bonita, nova, a favorita deles. Ela sentiu os olhos dele nos olhos dela, surpresa, e ele sentiu os lábios dela nos lábios dele, sorridentes. Como naquelas trombadas despretensiosas, que também foram se repetindo. Mais. E mais. À medida que as músicas ficavam mais alegres e mais agitadas, os passos ficavam mais desafiadores. O mais difícil era aquele de soltá-la para o ar. Ela teria que rodopiar e voltar aos braços dele. Temiam de

O Ritmo da Chuva

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Fernanda Takei e Rodrigo Amarante cantando O Ritmo da Chuva.

Parabéns, Rafa

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O Rafael Ireno, o Rafa, é um dos melhores amigos que conheci nos últimos anos. Da companhia sempre boa e agradável! Da conversa que rende e conta a história e diverte e constrói e anima e apóia e aconselha e incentiva e pára, fala sério, bem sério, e depois volta e ri e ri e chama fulano e siclano e assim vai e vai longe! Da calma e da serenidade inspiradoras. Do estresse e da inquietação peculiares! Da Lei de Murphy e das trapalhadas. Dos talentos escondidos e manifestos, cada vez mais. Da baita dedicação acadêmica. Do amor aos estudos, sincero e intenso. Do instinto protetor com todos aqueles que o cercam. Das aventuras na natação e no inglês e no bairro e naquela aula da Letras que, vixe: a melhor! a pior! Da empolgação! Do exagero? Da família engraçada. Da paçoca! Da sensibilidade. Do olhar cúmplice que logo descobre: Ah, ta acontecendo alguma coisa! Dos segredos. Dos conselhos furados. Dos conselhos marcantes! Das sete da manhã na filosofia. Das broncas por faltar nas aulas.

O Livro de Eli

O filme é sanguinário e incômodo. Quase um novo ensaio sobre a cegueira. Não nega o poder da Bíblia, tanto que atribui a ela a indestrutibilidade do Denzel Washington, o mérito na construção de impérios e a culpa pela destruição do mundo. De um lado, a besta-humana que mata meio mundo para manter-se com o livro. Do outro, a besta-humana que mata a outra metade para obtê-lo. No meio (do filme), a constatação óbvia de que tanto a defesa da fé quanto o seu uso indevido muitas vezes impedem a completa prática desta crença. A constatação óbvia de que o poder não está no papel ou nas palavras: está na prática. E, por fim, a perpetuação dos ensinamentos sagrados e da paixão humana pelo poder (que, aliás, é afirmada explicitamente pela própria Bíblia). A destruição do mundo é culpa do livro ou da paixão humana pelo poder? Sejam quais forem nossas respostas, elas pressupõem a certeza de sangue, sofrimento e morte. Pressupõem culpados. E há salvação? A vida e o sacrifício do Denzel Washington no

Aprendizado

Foi naquele dia que se apaixonou. Sua vida mudou para sempre. Depois de percorrer os corredores da biblioteca municipal e redescobrir aquele velho livro, a primeira grande leitura da sua vida, voltou para a mesa e começou a ler um texto qualquer. Foi nessa hora que sentiu a presença. Que olhos! Ali, na sua frente. Olhos grandes, vibrantes, carentes. Sentiu um arrepio, mas deixou pra lá e falou um oi desconfiado e muito simpático. Não ouviu resposta. O que ouviu, pouco depois, foi a pergunta de olha meu material? Automaticamente respondeu claro, até já, mas foi muito surpresa ver como aqueles olhos brilharam uma gratidão infinita! Tremeu. Como se fugisse do deslumbre, começou a olhar para qualquer lugar antes de olhar de fato para aquele material. Um gibi e um livrinho muito ilustrado e muito infantil. Quando os olhos voltaram, ouviu um agradecimento muito tímido e gaguejou um de nada muito encantado. Tudo muito. Era impossível ler o texto qualquer sem se deixar levar pelas garg

Nada Pra Mim

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Pato Fu cantando Nada Pra Mim.

Maturidade

"Sometimes when I get up in the morning, I feel very peculiar. I feel like I've just got to bite a cat! I feel like if I don't bite a cat before sundown, I'll go crazy! But then I just take a deep breath and forget about it. That's what is known as real maturity." - Snoopy

Literatura e Sociedade

Alguns amigos criticam a literatura contemporânea por ser apenas uma brincadeira de forma que não reflete a sociedade em que está inserida. Criticam sua falta de engajamento e seu esvaziamento de sentido. Creio que não há melhor reflexo que este.

Diferente ou Igual

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Todos pensavam que eram diferentes, inclusive ele. O fato de ser diferente de todos o assustava, por isso procurava alguém que fosse igual. Ao passar do tempo, porém, descobria que todos eram diferentes. Pior, descobria que a característica de ser diferente é comum a todos. Descobriu que, nisso, todos são iguais. O fato de ser igual a todos o assustou, por isso procurou alguém que fosse diferente. Ao passar do tempo, porém, descobriu que todos são iguais. Todos pensavam que eram diferentes, menos ele. O fato de ser diferente de todos o assustava, por isso...

Tempestade em Copo D'água

E de repente lá estava a cigarra no copo. A formiga, que religiosamente passava por ali todo dia, viu sua amiga presa num copo virado de ponta cabeça na terra e correu querendo ajudar. Iria a formiga salvar sua amiga? Primeiro, ela pegou um graveto e começou a dar pancadas no copo enquanto gritava seu sermão sobre o problema de virar copos e mais copos pra afogar as mágoas ou pra brindar. Mas a cigarra, que naquela situação nada ouvia do sermão, começou a implorar que a formiga parasse com aquelas pancadas barulhentas que doíam no ouvido. Depois a formiga começou a cavar muito a terra a fim de fazer um buraco que ligasse o copo ao lado de fora. Mas a cigarra começou um choro muito agudo pedindo que a formiga deixasse aquele trabalho vão e apenas ficasse ali, ao lado do copo, fazendo companhia. A cigarra estava com muito medo. O tempo foi passando e a formiga começou a desconfiar do que tinha feito a cigarra parar ali. Mas o vidro estava cada vez mais embaçado e o ambiente cad

Avatar e a euforia religiosa

O filme Avatar trouxe muitas metáforas da realidade e muita euforia, inclusive euforia religiosa. Para muitos é surpreendente imaginar um povo que trate seus semelhantes como irmãos, cuide da natureza com respeito e responsabilidade e creia em um objetivo maior para tudo. Isso encanta todo mundo e parece uma utopia, mas não é. Isso existe, tal como no filme. São muitas as pessoas que religiosamente fazem tudo isso dentro de seu povinho em volta da árvore e à espera do pássaro. O problema não é esse. O problema é que logo em seguida muitas dessas pessoas se desligam de seu "avatar" temporário e voltam a ser humanas, terrestres.

Suicídio da Inteligência

"Tão logo nos enfiamos mais seriamente em seus textos, começamos a sentir a mesma coisa de sempre, a inexplicável tentação de suicídio da inteligência por meio da própria inteligência. O escorpião cravando o seu ferrão, cansado de ser um escorpião, mas necessitando da escorpianidade para acabar com o escorpião. Em Madras ou em Heidelberg, o fundo da questão é sempre o mesmo: existe uma espécie de equívoco inefável no princípio dos princípios, de onde resulta este fenômeno que está falando a vocês neste momento, bem como vocês que estão escutando. Qualquer tentativa de explicá-lo fracassa totalmente por uma razão que qualquer um pode compreender: para definir e compreender, seria necessário estar fora do definido e do compreensível." CORTÁZAR, Julio. In:  O jogo da amarelinha

Sobre a Viagem

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Nunca gostei de exageros, embora eu seja exagerado. Talvez seja culpa da minha paixão por paradoxos. Comecei a pensar nisso na viagem. Falavam cada exagero verdadeiro. Que lugares fascinantes! Não apenas pela imponência, nem apenas pelo capricho. Fascinantes pelo misto de grandeza e detalhamento, ambos exageradamente na medida certa. Rios de esmeralda, palácios nobres, jardins de sonhos, obras de arte, construções monumentais! Frutos de muito talento, muita coragem, muita guerra, muita loucura, muita fé, muito tempo! É como se a História toda estivesse ali, palpável. Que privilégio! Listaria tudo isso, aliás até listei num rascunho que acabei de abandonar. É que tiraria o foco deste texto. Dizia eu que comecei a pensar nisso na viagem, e não falo da minha viagem. Falo da viagem dela. É, o intercâmbio. Nunca gostei de me expor, embora aqui esteja. Falavam cada exagero falso. Essa viagem nos afasta, mas nos aproxima tanto! Acho fascinante nossa caminhada, paradoxalmente tão grand