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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Respiração Artificial, de Ricardo Piglia

Resenha participante do Desafio Literário 2013 Respiração Artificial  foi o primeiro livro de ficção que li do argentino Ricardo Piglia. Do mesmo autor, antes, apenas Formas breves , um dos mais belos livros de ensaios que já devorei, ou melhor, que venho devorando incessantemente. Aliás, foi Formas breves que me fez correr atrás da ficção do hermano. No fundo, e na verdade, acho difícil definir qual dos dois é ficção, qual dos dois é ensaio teórico, qual dos dois é mais encantador. A única coisa que sei até aqui: de Piglia, quero ler cada vez mais. A sinopse de Respiração Artificial é simples, embora o livro seja bastante denso. Emilio Renzi, evidente auter ego do autor, vai dialogando com diversos personagens emblemáticos de maneira assustadoramente profunda e erudita sobre historiografia, filosofia, teoria literária, vida. No fundo, digo do ponto de vista da minha opinião ainda superficial, o livro é uma grande pretexto do qual Piglia dispõe para apresentar relatos autobiogr

Juliana

Esses seus olhos Jabuticabais Cor e delícia Essenciais Doce carícia Da sua boca Santa malícia Do seu sorriso Dá minha paz.

Carpe Diem

A felicidade é a colheita que fazemos daquilo que plantamos. De fato, boas leitura são sementes de sabedoria. Porém, não é a quantidade de livros que deixa a sabedoria mais farta, mas a qualidade das reflexões brotadas do que lemos. Isso não exclui a leitura compulsiva: quanto maior a quantidade de livros que lemos, maior a probabilidade de colhermos boas reflexões. O mesmo vale para a vida: não é a quantidade de anos que determina a felicidade, mas a qualidade com que os vivemos. No entanto, isso não invalida a importância de conservar a saúde, pelo contrário: quanto mais velhos e ainda saudáveis, maior a probabilidade de vivermos momentos felizes. A sabedoria, assim como a velhice, requer tempo. Mesmo aceitando que a vida é fugaz, é preciso saber: a melhor maneira de colher o dia é fazer a fugacidade da vida durar o máximo possível. A vida: não apenas consumi-la; sobretudo conservá-la. A melhor colheita, antes de tudo, é aquela bem plantada e bem cultivada.

Os passos seguintes

Continuação do texto " O primeiro passo " De fato, "a consciência da própria condição continua sendo o primeiro passo para uma possível mudança de vida". No entanto, é preciso ir mais além e definir a  direção  desse passo inicial, bem como quais devem ser os passos seguintes. Por exemplo: se o problema a ser combatido é a Vaidade, reconhecer os próprios erros pode, em vez de ajudar, apenas atrapalhar o pobre vaidoso: "vejam como sou bom: eu reconheço minhas fraquezas."  (há, inclusive, quem se orgulhe dos próprios defeitos). Por isso, apesar de essencial, a consciência da condição atual não basta: também é preciso saber aonde se quer chegar e qual o caminho a seguir.

Para saber estar junto

Todo bom relacionamento – seja ele familiar, conjugal, profissional, entre amigos, enfim – todo bom relacionamento nos faz valorizar os pequenos prazeres da vida, inclusive os breves – e prazerosos – momentos de introspecção. Afinal, bons momentos a sós são a base de bons diálogos e bons diálogos são a base de bons relacionamentos. Mas vale enfatizar: breves – e prazerosos. Se os momentos a sós forem muito constantes ou não existirem, acabar-se-ão os diálogos e, com eles, qualquer possibilidade de relacionamento. Ou ainda em outras palavras – penso cá comigo mesmo: para saber estar junto, há de se saber ficar sozinho.

E é isso que devemos buscar

Um bom livro não depende da grande quantidade de trechos bons e citáveis; depende, antes, da ausência de trechos não-citáveis. Ou melhor: um bom livro é aquele de quem não conseguimos citar nada que não pareça, ainda que genial, incompleto ou injusto em relação aos demais trechos. Assim também as pessoas boas: não aquelas com muitas qualidades, mas aquelas - na medida do possível - com cada vez menos defeitos. Embora não seja costume, encontra-se qualidades em qualquer pessoa, qualquer uma. Raro é achar alguém sem defeitos. E é isso que devemos buscar, não nos outros, mas em nós mesmos: mais do que grandes atos, poucos trechos não-citáveis. Menos defeitos e mais integridade.

It's Friday

Bem-aventurado aquele cuja alegria da sexta-feira não é apenas pelo final de mais uma semana trabalhosa, mas também - e principalmente - pelo início de mais um final de semana promissor.

Imagine o nutricionista

Imagine o nutricionista dizendo que você precisa comer, que precisa comer e ponto, sem dizer o quê, nem para quê, nem quanto. Seria tão incompleto quanto quem diz aos outros que é importante ler, que é importante ler e ponto. Agora imagine o nutricionista dizendo que você precisa comer arroz com feijão, pois é uma combinação que provavelmente surgiu no Brasil entre o arroz consumido em Portugal e o feijão já consumido pelos índios; ou que o Brasil foi o primeiro país sul-americano a cultivar o arroz, chamado até então de milho d'água, e tudo o mais. Seria tão maçante e irrelevante quanto o professor que ensina apenas períodos literários aos alunos.

O Natal da Formiga e da Cigarra

Enquanto a formiga aproveitava o período do Natal para relembrar e reafirmar a importância das boas ações e dos bons sentimentos promovidos pelo Menino Jesus, a cigarra estava completamente imersa no consumismo e estresse inerentes à época. E pode parecer paradoxal, mas a cigarra, mesmo em meio à agitação, estava euforicamente alegre com o clima de festa, enquanto a nobre formiga afogava-se em sua peculiar melancolia resignada. Em seu pedestal de sabedoria, a formiga olhava toda aquela agitação ao redor com muito nervosismo e tristeza, criticando a cigarra por não observar o "verdadeiro sentido do Natal". No fundo - e talvez ela nem se dê conta disso - a formiga tinha vontade de fazer sumir aquela cigarra tão desrespeitosa em sua alegria barulhenta! Desde os tempos mais primórdios, a alegria dos descompromissados ofende aos responsáveis de espírito. A formiga não percebia quanto suas preces por bons sentimentos e boas ações tinham a ver com as cigarras. Por exemplo: a f

Preferência

Preferir não é excluir as demais possibilidades, é apenas ter maior tendência a alguma coisa em relação às outras. Digo isso porque somos diferentes, meu amigo: você prefere os grandes romances, mas eu prefiro os fragmentos literários. E é engraçado porque, no campo amoroso, sempre fui eu o propenso a relacionamentos estáveis e duradouros, enquanto você curte mais a multiplicidade e a fugacidade. Talvez por conta do medo do tédio. E essa diferença pode parecer contraditória, mas prefiro ver uma lógica: é que acho mais fácil me entediar lendo um romance de mil páginas do que lendo mil páginas de fragmentos, assim como me parece bem mais entediante buscar mil e uma experiências com mulheres ao invés de, com apenas uma, viver mil e uma experiências em conjunto. Se essas minhas opções não lhe parecem muito atraentes, talvez seja porque ainda lhe resta conhecer um grande escritor de fragmentos, ou mesmo uma verdadeira companhia. Da minha parte, tenho lutado para um dia ser esse tipo de escr

Dá a luz

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Aquilo de anos anteriores - melhorar no violão e na paciência, no francês e na persistência, na cozinha e no companheirismo, no bolso e na responsabilidade, na escrita e nas leituras, na garupa e na prudência, na dança e na doçura, na erudição e na prática espiritual - mas com uma diferença marcante: agora casado e também muito feliz por isso. Tanta coisa outrora tão distante e agora tão real. Ano fantástico esse que dá a luz ao que acaba de nascer. Por aí, de um lado, quem deseja felicidade a todos, indistintamente. De outro, quem a deseja só a quem de fato merece. Por aqui, o desejo de que todos tenham, sim, a felicidade: seja por merecimento, seja - principalmente - por misericórdia divina. Digo por experiência própria. Quero transbordar aos outros o que recebo em abundância. Refletir ao meu redor toda a luz que me ilumina.